Este ano estou levando o
festival de forma bem tranquila. E, curiosamente, estou reparando que tem
acontecido sempre alguma situação interessante durante ou
depois das sessões. Até agora assisti cinco filmes. E reparei que
para cada sessão, sempre tiro alguma frase marcante daquele dia.
Vamos então a alguns desses filmes e suas respectivas situações e
frases.
ELENA (idem, 2011), de
Andrei Zvyagintsev. A produção russa foi vencedora do Prêmio
Especial do Júri, no Festival de Cannes de 2011. Andrei é o mesmo
diretor de O Retorno (Vozvrashchenie, 2003), que, na época, ganhou o prêmio de
Melhor Filme no Festival de Veneza. Elena narra a história
da personagem título, que possui uma relação de
esposa/empregada/enfermeira com Vladimir. Eles se consideram casados,
no entanto, dormem em cômodos separados. Aos poucos vamos entendendo
como Elena entrou na vida do homem com quem mora. Percebemos que ele possui uma boa condição financeira e tem uma filha, que raramente vê. Elena tem um filho extremamente
acomodado e preguiçoso, que é casado e tem dois filhos. Ela ajuda-os financeiramente, através de contribuições que consegue
através de seu marido, que deixa claro não concordar com essa
atitude dela em relação ao filho. Após sermos apresentados a tais
situações, Vladimir sofre um infarto e é levado para o hospital.
Ele solicita à Elena que entre em contato com sua filha, pois deseja
vê-la neste momento em que se encontra enfermo. Considero o diálogo
dos dois, no quarto do hospital, como sendo o momento essencial do
filme. A opinião de sua filha sobre o motivo pelo qual as pessoas insistem em
constituir uma família, ilustra de maneira prévia, exatamente o que
irá ocorrer nos acontecimentos seguintes. [Spoiler] Elena acaba
matando Vladimir para poder ficar com seu dinheiro e sua casa e leva
a família de seu filho para morar lá.
Situação interessante: Um pouco antes do final do filme, de repente, ele para. Todos no cinema acham que acabou. No entanto, os créditos não sobem. As luzes se
acendem e todos ficam comentando: “Ué, acabou mesmo? Será?” As pessoas vão se levantando e saindo da sala sem
entender muito bem. Até que o senhor que estava ao meu lado diz algo que passa a fazer muito sentido: “Elena roubou tudo dele! Até mesmo os créditos!”
Achei sensacional, porque se o diretor realmente tivesse feito isso, de não colocar os créditos finais intencionalmente, faria
realmente sentido para o contexto do filme. Mas, aí surge uma mulher que
é funcionária do cinema e diz para todos que o filme não acabou. A
película se rompeu e estava sendo consertada, pois ainda
faltava 1 minuto para terminar. Ficamos então esperando por um
tempo, até que ela retornou, e parecia estar já com uma certa
impaciência, pois uma outra sessão iria ocorrer na mesma sala. E
então ela simplesmente nos conta o final do filme. Todos aplaudem e
saem rindo com tal situação, que foi muito engraçada.
A COLEÇÃO INVISÍVEL
(2012), de Bernard Attal. A produção é dirigida por um francês,
que se apaixonou pelo Brasil, mais especificamente a Bahia, local
onde o filme é situado. O roteiro é baseado num conto do escritor
austríaco, Stefan Zweig, e foi escrito pelo próprio Bernard, com a
ajuda do também diretor Sérgio Machado. É estrelado por Vladimir
Brichta, cujo personagem vai para o interior da Bahia em busca de uma
coleção vendida pelo seu pai a um colecionador, que é vivido por
Walmor Chagas. Pelo fato de Brichta fazer muitos papéis cômicos é
um pouco difícil vê-lo atuando de forma séria, em uma história
sensível. No entanto, o tom do filme consegue empurrá-lo para nos
mostrar esse seu outro lado de interpretação.
Situação interessante:
Assisti esse filme no Pavilhão do Festival, onde após a exibição,
geralmente acontece um debate com o diretor e os atores. Fui assistir
o debate e lá descobrimos que o que trouxe realmente o diretor
francês para a Bahia foi Jorge Amado. Ele é completamente
apaixonado pela obra do autor baiano. Isso nos prova que a arte é
mesmo universal, não importa a língua que se fale. Depois, durante
o debate, foi falado sobre a função da profissão de ator. Bernad
nos conta que não precisou falar muita coisa para Walmor Chagas, pois
ele já sabia o que devia ser feito. E então Walmor diz uma frase
que considerei muito interessante: “O ator é um exibicionista. E
ao nos exibirmos, revelamos o nosso íntimo e o íntimo de todo
mundo, pois representamos aquilo todos nós somos”.
THE PLEASURE GARDEN
(idem, 1925), de Alfred Hitchcock. Esse ano o festival está com uma
mostra chamada Foco Reino Unido e foram selecionados alguns filmes
antigos e clássicos para serem exibidos. Esse foi o primeiro filme de
Hitchcock, ainda na época do cinema mudo. Trata-se de uma história
de duas dançarinas que trabalham numa casa chamada Jardim dos
Prazeres. Uma é a mocinha de vida simples, que mora com um cachorro
em um pequeno apartamento. A outra é uma esnobe e ganaciosa, que
quer subir na vida de qualquer jeito.
Situação interessante:
O filme foi exibido na praia de Copacabana em um telão montado na
areia. A trilha sonora foi tocada ao vivo pela Orquestra Sinfônica
Brasileira Jovem. Foi tudo muito bonito e, ao mesmo tempo,
moderno e nostálgico, de ver uma situação como essa em plena praia. Após as
vinhetas de patrocínio, todos fizeram um enorme silêncio, pois o
filme ia começar. Exatamente nesse momento, um vendedor grita: “Olha
o biscoito globo, refrigerante e água mineral!” Todo mundo riu
muito e logo em seguida o filme começou.
Comentários
Assisti ontem HOLY MOTORS, viu?
E vi também o documentário sobre a Marina Abramovic.
O Festival acabando e todo mundo já já voltando pra Avenida Brasil.
Adorei suas impressões.
Até consigo imaginar você contando como foi, hahahahaha.
Abraços.
Adorei seus comentários acerca dos filmes do Festival, em especial, das situações interessantes.
Bjs!
Ivana
04.11.2012.