Festival do Rio 2012


Este ano estou levando o festival de forma bem tranquila. E, curiosamente, estou reparando que tem acontecido sempre alguma situação interessante durante ou depois das sessões. Até agora assisti cinco filmes. E reparei que para cada sessão, sempre tiro alguma frase marcante daquele dia. Vamos então a alguns desses filmes e suas respectivas situações e frases.

ELENA (idem, 2011), de Andrei Zvyagintsev. A produção russa foi vencedora do Prêmio Especial do Júri, no Festival de Cannes de 2011. Andrei é o mesmo diretor de O Retorno (Vozvrashchenie, 2003), que, na época, ganhou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Veneza. Elena narra a história da personagem título, que possui uma relação de esposa/empregada/enfermeira com Vladimir. Eles se consideram casados, no entanto, dormem em cômodos separados. Aos poucos vamos entendendo como Elena entrou na vida do homem com quem mora. Percebemos que ele possui uma boa condição financeira e tem uma filha, que raramente vê. Elena tem um filho extremamente acomodado e preguiçoso, que é casado e tem dois filhos. Ela ajuda-os financeiramente, através de contribuições que consegue através de seu marido, que deixa claro não concordar com essa atitude dela em relação ao filho. Após sermos apresentados a tais situações, Vladimir sofre um infarto e é levado para o hospital. Ele solicita à Elena que entre em contato com sua filha, pois deseja vê-la neste momento em que se encontra enfermo. Considero o diálogo dos dois, no quarto do hospital, como sendo o momento essencial do filme. A opinião de sua filha sobre o motivo pelo qual as pessoas insistem em constituir uma família, ilustra de maneira prévia, exatamente o que irá ocorrer nos acontecimentos seguintes. [Spoiler] Elena acaba matando Vladimir para poder ficar com seu dinheiro e sua casa e leva a família de seu filho para morar lá.
Situação interessante: Um pouco antes do final do filme, de repente, ele para. Todos no cinema acham que acabou. No entanto, os créditos não sobem. As luzes se acendem e todos ficam comentando: “Ué, acabou mesmo? Será?” As pessoas vão se levantando e saindo da sala sem entender muito bem. Até que o senhor que estava ao meu lado diz algo que passa a fazer muito sentido: “Elena roubou tudo dele! Até mesmo os créditos!” Achei sensacional, porque se o diretor realmente tivesse feito isso, de não colocar os créditos finais intencionalmente, faria realmente sentido para o contexto do filme. Mas, aí surge uma mulher que é funcionária do cinema e diz para todos que o filme não acabou. A película se rompeu e estava sendo consertada, pois ainda faltava 1 minuto para terminar. Ficamos então esperando por um tempo, até que ela retornou, e parecia estar já com uma certa impaciência, pois uma outra sessão iria ocorrer na mesma sala. E então ela simplesmente nos conta o final do filme. Todos aplaudem e saem rindo com tal situação, que foi muito engraçada.

A COLEÇÃO INVISÍVEL (2012), de Bernard Attal. A produção é dirigida por um francês, que se apaixonou pelo Brasil, mais especificamente a Bahia, local onde o filme é situado. O roteiro é baseado num conto do escritor austríaco, Stefan Zweig, e foi escrito pelo próprio Bernard, com a ajuda do também diretor Sérgio Machado. É estrelado por Vladimir Brichta, cujo personagem vai para o interior da Bahia em busca de uma coleção vendida pelo seu pai a um colecionador, que é vivido por Walmor Chagas. Pelo fato de Brichta fazer muitos papéis cômicos é um pouco difícil vê-lo atuando de forma séria, em uma história sensível. No entanto, o tom do filme consegue empurrá-lo para nos mostrar esse seu outro lado de interpretação.
Situação interessante: Assisti esse filme no Pavilhão do Festival, onde após a exibição, geralmente acontece um debate com o diretor e os atores. Fui assistir o debate e lá descobrimos que o que trouxe realmente o diretor francês para a Bahia foi Jorge Amado. Ele é completamente apaixonado pela obra do autor baiano. Isso nos prova que a arte é mesmo universal, não importa a língua que se fale. Depois, durante o debate, foi falado sobre a função da profissão de ator. Bernad nos conta que não precisou falar muita coisa para Walmor Chagas, pois ele já sabia o que devia ser feito. E então Walmor diz uma frase que considerei muito interessante: “O ator é um exibicionista. E ao nos exibirmos, revelamos o nosso íntimo e o íntimo de todo mundo, pois representamos aquilo todos nós somos”.

THE PLEASURE GARDEN (idem, 1925), de Alfred Hitchcock. Esse ano o festival está com uma mostra chamada Foco Reino Unido e foram selecionados alguns filmes antigos e clássicos para serem exibidos. Esse foi o primeiro filme de Hitchcock, ainda na época do cinema mudo. Trata-se de uma história de duas dançarinas que trabalham numa casa chamada Jardim dos Prazeres. Uma é a mocinha de vida simples, que mora com um cachorro em um pequeno apartamento. A outra é uma esnobe e ganaciosa, que quer subir na vida de qualquer jeito.
Situação interessante: O filme foi exibido na praia de Copacabana em um telão montado na areia. A trilha sonora foi tocada ao vivo pela Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem. Foi tudo muito bonito e, ao mesmo tempo, moderno e nostálgico, de ver uma situação como essa em plena praia. Após as vinhetas de patrocínio, todos fizeram um enorme silêncio, pois o filme ia começar. Exatamente nesse momento, um vendedor grita: “Olha o biscoito globo, refrigerante e água mineral!” Todo mundo riu muito e logo em seguida o filme começou.

Comentários

Gabriel Pardal disse…
Larissa, soy eu.
Assisti ontem HOLY MOTORS, viu?
E vi também o documentário sobre a Marina Abramovic.
O Festival acabando e todo mundo já já voltando pra Avenida Brasil.
Me deu vontade de assistir "A Coleção Invisível". Ainda não vi o Vladimir Brichta fazendo papel que não seja cômico.

Adorei suas impressões.
Até consigo imaginar você contando como foi, hahahahaha.

Abraços.
Anônimo disse…
Lari,

Adorei seus comentários acerca dos filmes do Festival, em especial, das situações interessantes.

Bjs!
Ivana
04.11.2012.