ELVIS de Baz Luhrman é o cinema como arte e espetáculo

Desde “Vem Dançar Comigo” (Strictly Ballroom, 1992), com a marcante canção “Love Is In The Air”, o diretor e roteirista australiano Baz Luhrman segue por interessantes escolhas em Hollywood. Pode-se dizer que uma de suas principais características está na ousadia de lançar um olhar inovador para histórias e fatos de personagens clássicos. Assim foi em “Romeu + Julieta” (1996), em que ele inseriu a poesia shakespeareana num contexto urbano, moderno e musical. Com “Moulin Rouge” (2001), Luhrman concretizou ainda mais sua marca e estilo, ao transformar a virada do século XIX num ambiente onírico e exuberante em, praticamente, todos os quesitos artísticos da cinematografia: figurino, cenários, maquiagem e, principalmente, a trilha sonora. A música é sempre um elemento de destaque em suas produções. Como por exemplo, ouvirmos Madonna, The Police, Queen, David Bowie, dentro de uma narrativa diferente da época em que se passa a história, foi algo realmente inusitado.

Depois de um intervalo de nove anos das produções cinematográficas – seu último longa-metragem foi a refilmagem de “O Grande Gatsby” (The Great Gatsby, 2013) – Baz Luhrman está de volta com ELVIS, que levou três anos para ser concluído. Estrelado pelo ator Austin Butler, o filme traz tudo aquilo que é a marca do cineasta, acrescido de uma narrativa madura e criativa. É impossível não perceber como a montagem se apresenta de maneira perspicaz no que diz respeito aos flashbacks (volta ao passado), flashfowards (visão do futuro), montagens paralelas, e, principalmente, o desenho de som, que transforma as transições das cenas em verdadeiros mashups (misturar duas músicas diferentes) visuais e sonoros.

O maestro Baz Luhrman conduz a orquestra fílmica para que o público consiga perceber e sentir o impacto que foi um jovem rapaz branco, em pleno anos 50 – quando ainda existia a Lei de Segregação Racial – cantando músicas de compositores negros e dançando de um jeito sensual, movendo freneticamente seus quadris. A cena da reação das mulheres ao verem Elvis pela primeira vez se apresentando em um palco é realmente incrível. E ela é descrita, em narração off, por aquele que irá se tornar seu perverso empresário, Coronel Tom Parker, brilhantemente interpretado por Tom Hanks É dele o ponto de vista de toda a narrativa, que acaba por dar um tom sarcástico aos acontecimentos. 

 


Austin Butler possui uma curta filmografia, mas demonstra um perfeito domínio interpretativo para um personagem tão icônico. Ele consegue, inclusive, mudar o tom de voz e fazer os diferentes sotaques que o cantor teve ao longo das décadas. E sim, é o ator quem canta as músicas no filme. Durante suas pesquisas e preparação, que levaram dois anos, para viver Elvis no cinema, o ator descobriu a triste coincidência de que as mães de ambos faleceram quando eles tinham a mesma idade, 23 anos. Isso o impactou de maneira muito forte e trouxe à tona toda a humanidade por trás do ícone.

Vale ressaltar que o roteiro destaca os eventos históricos das décadas de 50, 60 e 70, mostrando também o contexto social e político dos EUA em cada época, como os assassinatos de Martin Luther King e Bobby Kennedy. Outro ponto importante é que o filme deixa muito claro que a origem e inspiração de Elvis vem dos clubes frequentados por artistas negros e, que estes, não obtinham tanto sucesso quanto ele, justamente devido ao preconceito racial. 

 

Assim como em todas as produções de Luhrman, o figurino é sempre impecável, graças à Catherine Martin, que está presente não somente nos trabalhos do cineasta, como em sua vida, já que é a esposa dele. A maquiagem também está primorosa e sem exageros, afinal, quem conhece o artista, sabe o quanto Elvis mudou muito com o passar dos anos.

O filme original de Luhrman tinha 4 horas de duração, e depois de muitos cortes, ele fechou com 2 horas e 40 minutos. Ele descreve que a produção é como uma “ópera de cultura pop” dividida em 3 atos. Ao final da sessão, temos exatamente essa sensação, de termos assistido um espetáculo que nos leva numa viagem emocional dentro da história desse grande artista que se tornou, como Austin Butler diz: “o papel de parede da sociedade”.


Ficha Técnica:

Direção: Baz Luhrman

Roteiro: Baz Luhrman, Sam Bromell, Craig Pearce

Fotografia: Mandy Walker

Produção: Warner Bros. (presents), Bazmark Films, Roadshow Entertainment, The Jackal Group e Whalerock Industries

Distribuição: Warner Bros.

País: Austrália e EUA

Ano: 2022

Duração: 2h40min

Comentários

Anônimo disse…
Sensacional! Você sempre com o seu olhar apurado! Parabéns!
Anônimo disse…
Well done, Lari!!
Clotildes disse…
Parabéns, querida Larissa Bello, fiquei com água na boca para assistir ao filme. Beijo