A TURMA DA MÔNICA - LIÇÕES é sobre o desafio de amadurecer

A Turma da Mônica, criada na década de 70 por Maurício de Souza, é a história em quadrinhos mais popular da cultura brasileira, representando mais de 80% das vendas deste estilo literário no Brasil. Esse percentual nos permite afirmar que as revistinhas da Turma da Mônica marcaram a vida de muitas gerações. Essa mesma, que vos escreve, quando criança, as “devorava” logo que chegavam em um pacotinho com sete revistinhas. Meu pai resolveu fazer a assinatura, pois eu sempre pedia dinheiro para comprá-las nas bancas. Confesso que até hoje me divirto muito com esses personagens de personalidades tão marcantes.

 
E eis que, finalmente, esses personagens são transportados para a tela do cinema, mas não mais como animação e sim, em live action, com atores mirins dando vida a todos eles. A escolha e inspiração do roteiro vem de uma graphic novel de dois irmãos que, provavelmente, também tiveram sua infância marcada pela Turma do Maurício de Souza. Vitor e Lu Caffagi são cartunistas mineiros, que em 2020, quando foi comemorado os 50 anos de existência da turminha, receberam o convite, juntamente com outros 50 artistas, para elaborarem suas próprias versões de uma história desses personagens. A versão deles tocou tanto Maurício de Souza que, em seguida, ele pediu que a dupla elaborasse uma história mais longa. A partir daí, nasceu a trilogia: “Turma da Mônica: Laços - Lições - Lembranças”.
O primeiro filme, de 2019, “Laços”, surpreende pela personificação fiel e não caricata da turma. O universo das histórias em quadrinhos é muito único, principalmente porque cada um cria sua interpretação pessoal dos personagens. Isso faz com que, às vezes, se torne muito difícil atender as expectativas do público. Ainda mais de uma HQ, que já faz parte do repertório infantil (e adulto) dos brasileiros. Contudo, é possível perceber que o elenco foi muito bem escolhido e preparado para dar conta do recado.

Se em "Laços'', nos é apresentada uma história cheia de aventura, planos infalíveis e diversão, em “Lições”, somos imersos na sensibilidade emocional dos conflitos psicológicos de cada um. Compreendemos a verdadeira origem da gula da Magali (Laura Rauseo); Cascão (Gabriel Moreira) e Cebolinha (Kevin Vechiatto), conseguem dar um pequeno passo rumo aos seus processos de amadurecimento como meninos que precisam vencer seus medos e obstáculos; e a Mônica (Giulia Benite) demonstra que sua força não está somente nas coelhadas. É nítido que as crianças estão mais amadurecidas também no quesito da atuação e entregam uma espontaneidade muito convincente, sendo impossível não nos apaixonarmos por eles.


O tom deste segundo filme, que foi novamente roteirizado por Thiago Dottori e dirigido por Daniel Rezende, é muito mais melancólico, o que rende diversos momentos bem comoventes (preparem os lencinhos!). Outro diferencial está na participação maior de mais personagens, que vão desde os pais de cada um da turma, passando pelos mais novos (Marina, Milena, Do Contra, Nimbus), e ainda, Dudu, Franjinha, Rolo, Tina, Pipa e Zecão. A escolha pela atriz Isabelle Drummond para dar vida à Tina, não poderia ser mais acertada, especialmente, no diálogo dela com a Mônica sobre o que significa crescer e amadurecer. É praticamente o lugar de fala da atriz, que começou sua carreira também criança, fazendo Emília, na versão de 2001 para a TV Globo, do Sítio do Pica Pau Amarelo.


A história se desenrola após um pequeno acidente em que a Mônica quebra o braço e seus pais resolvem mudá-la de escola, separando-a de seus amigos. O desafio do recomeço, de estar em um novo ambiente, de conhecer novas pessoas... Tudo isso já é difícil para a vida adulta, que dirá para uma criança. Aos poucos Mônica aprende que a relação entre o novo e o antigo não precisa ser excludente, pelo contrário. E ainda ensina que é possível sim, crescer sem deixar de ser criança.


Ficha Técnica:

Direção: Daniel Rezende
Roteiro: Mariana Zatz e Thiago Dottori
Elenco: Giulia Benite, Kevin Vechiatto, Laura Rauseo, Gabriel Moreira, Monica Iozzi, Paulo Vilhena.
Direção de Fotografia: Azul Serra
Distribuição: Paris Filmes e Downtown Filmes
Produção: Biônica Filmes
Ano: 2021

Comentários

Unknown disse…
Ótima crítica! Vai ser bem interessante levar a Maria Eduarda para assistir e se ver no lugar da Mônica.