O futuro é das mulheres em O EXTERMINADOR DO FUTURO: DESTINO SOMBRIO

A saga de “O Exterminador do Futuro” (The Terminator) começou em 1984 com o primeiro filme dirigido por James Cameron, cujo roteiro foi assinado por ele e pela roteirista Gale Anne Hurd. Ambos criaram um dos personagens mais emblemáticos de ficção científica no cinema, personificado (ou robotizado) por Arnold Schwarzenegger: Um ciborgue que veio do futuro com a missão de matar a mãe daquele que será o salvador da humanidade em uma guerra contra as máquinas. A atriz Linda Hamilton deu vida a Sarah Connor, uma jovem garçonete que não faz a menor ideia do mundo apocalíptico que está por vir e, muito menos, o tamanho da sua responsabilidade diante desse futuro. A resistência humana, liderada por John Connor (futuro filho de Sarah) também consegue enviar de volta ao passado um soldado com a missão de protegê-la. Kyle Reese (Michael Biehn) é o seu fiel e único protetor diante da incansável perseguição do ciborgue. A relação romântica dos dois acontece durante pequenas pausas de fuga, porém é o suficiente para que John seja gerado.


A sequência só vem sete anos depois com “O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final” (Terminator 2: Judgment Day, 1991). O elenco segue com Arnold Schwarzenegger e Linda Hamilton. James Cameron continua na direção e no roteiro, porém troca de parceria para William Wisher. Nessa continuação conhecemos John Connor (Edward Furlong) adolescente e morando com pais adotivos. Enquanto sua mãe, Sarah, está internada em um hospital psiquiátrico devido seus “devaneios” sobre o fim do mundo e de como as máquinas irão entrar em guerra contra a humanidade. Novamente um exterminador é enviado do futuro para matar, dessa vez, o próprio John. Porém, trata-se de um modelo mais moderno de exterminador, o T-1000, que é feito de metal líquido e é capaz de se clonar, se transformando em outras pessoas. A resistência também envia alguém para protegê-lo, que, ironicamente, também é um exterminador do mesmo modelo do primeiro filme, um T-800, cujo “molde” é do Schwarzenegger. Este é um  elemento de extrema relevância que provoca uma forte virada emocional, tanto para Sarah, quanto para os espectadores. Enquanto no primeiro filme todos odiavam e temiam o T-800, no segundo, passamos a adorá-lo e torcer por ele.


É nesse segundo filme que o roteiro se aprofunda mais na empresa de tecnologia, a Skynet, que será responsável pelo desenvolvimento do sistema de inteligência artificial. É esse sistema que passará a comandar a guerra contra os seres humanos.


Após o segundo filme, houveram outros, com diferentes diretores e roteiristas. James Cameron não participou diretamente desses outros projetos: “O Exterminador do Futuro: Rebelião das Máquinas” (Terminator: Rise of the Machines, 2003), “O Exterminador do Futuro: A Salvação” (Terminator: Salvation, 2009), “O Exterminador do Futuro: Gênesis” (Terminator: Genisys, 2015). Cada uma dessas produções traçou uma visão diferente da mesma história, sempre mantendo seus personagens. Schwarzenegger participou de quase todos esses projetos, exceto “A Salvação”, onde ele “aparece” somente como um protótipo. Já a atriz Linda Hamilton nunca mais havia aparecido, mesmo com sua personagem sendo citada. Sarah Connor reaparece através da atriz Emilia Clarke, de “Game of Thrones”, que interpretou a heroína em “Gênesis”.

Nessa mais recente produção, James Cameron volta como um dos produtores e também participa no processo de desenvolvimento da história, que como ele mesmo diz, esse filme seria a continuação do segundo filme. Cameron ainda conseguiu convencer Linda Hamilton a voltar a interpretar Sarah. O seu argumento de persuasão foi bastante convincente. Ele afirmou que ela seria a única atriz com a idade de 60 e poucos anos com talento e capacidade física para as cenas de ação propostas no filme. E, realmente, ele tem razão, pois é possível vermos diversos atores homens com essa mesma idade protagonizando produções desse mesmo estilo, mas mulheres, é algo inexistente dentro da indústria hollywoodiana.



E por falar em mulheres, dentre todos os filmes da saga, este é o que tem mais protagonistas femininas. Além de Sarah Connor, somos apresentados logo de cara a personagem interpretada pela canadense Mackenzie Davis, que está completamente metamorfoseada se a compararmos com sua personagem do episódio “San Junipero”, da da série “Black Mirror” da Netflix. Davis é Grace, uma humana “aprimorada” que veio do futuro para a cidade do México dos dias de hoje, para proteger Daniella Ramos, interpretada pela atriz colombiana Natalia Reyes, que ficou conhecida do público latino pela sua participação na telenovela “Lady, La Vendedora de Rosas”. O trio de mulheres se juntam para combater o exterminador modelo Rev-9 (Gabriel Luna), que tem um biotipo latino e cuja primeira fala é em espanhol.

O fato do filme se iniciar no México retoma a referência de continuação dos primeiros filmes, uma vez que Sarah tem conexões com amigos mexicanos. E, sendo intencional ou não, esse contexto traz à reflexão o atual cenário político dos EUA, com a questão da relação (ainda mais) conturbada do presidente Trump com os imigrantes. O roteiro ainda inclui uma cena de travessia ilegal entre a fronteira dos dois países, onde mostra o cenário da detenção dos imigrantes. Detenção essa que foi e vem sendo reportada e denunciada pela mídia, principalmente quando Trump ordenou separar as crianças de seus pais. Várias acusações foram feitas em relação as condições não salutares que essas pessoas estavam vivenciando. Há, inclusive, uma cena em que Grace, abre todas as portas e liberta todos os imigrantes que estão ali, pois Dani estava detida juntamente com eles. 



Schwarzenegger aparece quase na metade do filme, ele ainda é o T-800, porém agora mais envelhecido, afinal ele é máquina por dentro, mas é humano por fora. Segundo o roteiro, ele permaneceu preso no passado depois que Sarah e John impediram o Julgamento Final. Como ele não tinha mais nenhuma missão a cumprir, então passou a interagir com as pessoas e foi aprendendo a se tornar mais humano. Estando, inclusive, casado! Esse é o momento esdrúxulo e cômico do filme. Esse viés mais hilário do personagem já havia sido abordado também em “O Exterminador do Futuro: Gênesis” (Terminator: Genisys, 2015). Seja como for, para os fãs, é bastante nostálgico ver os atores Linda e Arnold juntos novamente, na pele de dois personagens tão marcantes para a saga.


As cenas de ação estão todas incrivelmente filmadas, talvez tão incríveis, que em algumas delas, há um certo exagero para que acreditemos nas situações propostas. As técnicas e recursos de efeitos especiais contribuem muito para as mega produções, porém é preciso saber dosar. Talvez Tim Miller, que também dirigiu “Deadpool” (idem, 2016), tenha excedido um pouco em algumas sequências, como por exemplo, as cenas do avião e a represa. 


[spoiler adiante]
Em relação a narrativa, o roteiro traz uma nova proposta, com um novo salvador da humanidade, que, no caso, passa a ser uma salvadora. Nesse quesito, o futuro passa a depender não mais de um homem, mas de uma mulher. E ainda, uma mulher latina! Dani não é a mãe de um futuro filho que se tornará herói da humanidade. Diferente de Sarah,  ela é a própria heroína dessa nova história, que pelo visto parece estar destinada a sempre se repetir. Por mais que Sarah e John tenham conseguido impedir o Julgamento Final com a Skynet, outras empresas surgirão. Dessa forma, o roteiro parece que entra em um eterno looping, se assemelhando um pouco ao conceito da trilogia “Matrix”. Ou seja, segue a concepção de que o destino da humanidade é mesmo sombrio e está fadado a uma guerra contra as máquinas, por mais que se mude o protagonismo dos heróis e/ou seus personagens acreditem que esse futuro possa ser impedido. 



Ficha Técnica


Diretor: Tim Miller
Elenco: Arnold Schwarzenegger, Linda Hamilton, Mackenzie Davis, Natalie Reyes, Gabriel Luna
Roteiro: David S. Goyer, Justin Rhodes, Billy Ray
Produção: James Cameron e David Ellison
Fotografia: Ken Seng
Distribuição: Fox Film
Duração: 2h8min
Ano: 2019

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