O ator americano Harry Dean
Stanton é o personagem título do filme de estreia do, também ator, John Carroll
Lynch. Stanton faleceu em setembro desse ano aos 91 anos de idade e este foi o
seu último trabalho no cinema. Coincidentemente, ou não, além da produção trazer
reflexões acerca da vida e morte, este é um trabalho quase autobiográfico do ator.
Isso porque os dois roteiristas, Logan Sparks e Drago Sumonja, já o conheciam
há muito tempo e desejavam fazer um filme com ele e sobre ele.
Lucky é um senhor de 90 anos que
possui uma disciplinada rotina. Ao acordar, pratica alguns exercícios, depois
toma um copo de leite, que já estava no copo dentro da geladeira, se arruma com
roupa típica de cowboy, vai até a lanchonete para fazer palavras-cruzadas,
passa na mercearia para comprar leite ou cigarros, que aliás é o seu vício há
anos. Ele vive só, nunca se casou e nem teve filhos. Lucky frequenta também um
bar, onde costuma tomar Bloody Mary. Tudo parece seguir de maneira tranquila na
sua vida, até um dia que ele cai em casa. A partir daí o personagem desencadeia
um processo de reflexão e autoconsciência sobre sua finitude existencial.
Contudo, isso é feito de uma forma nem um pouco piegas. Pelo contrário, o filme
mergulha na crença do vazio, no fato de que não somos nada e somente o nada é o
que nos espera após a nossa morte. “Você é nada!”, é essa sempre a saudação que
Lucky usa para cumprimentar o dono da lanchonete que frequenta.
Antes da sua queda em casa,
enquanto fazia suas palavras cruzadas, ele se depara com a palavra “realismo”. O
interessante dessa cena é que funciona como um prelúdio para os diálogos e a
filosofia que Lucky conduz sua vida. Ele utiliza seu telefone para ligar a um amigo,
que não ouvimos a voz e nem sabemos quem é. Dialoga pelo telefone sobre o
significado desta palavra. Procura no dicionário sua definição e lê em voz
alta: “a prática de aceitar uma situação
como ela é e estar preparado para agir adequadamente”. Podemos pensar que
esse tal “amigo” seria uma representação do seu alter ego. Tanto que Lucky
confidencia algo que o marcou imensamente quando era criança. Inclusive, essa
história que ele conta, realmente aconteceu com o próprio ator quando era
jovem.
O filme ainda traz a participação
do diretor David Lynch como o personagem Howard. Um homem que está arrasado
pelo fato do seu melhor amigo e animal de estimação, o cágado Presidente
Roosevelt, ter fugido da sua casa. E depois de vermos Howard explicar sobre o
quão admirável é esse ser vivo, nunca mais iremos olhar para um cágado da mesma
maneira. Stanton participou de diversos filmes de David Lynch. O fato dele
estar presente no último filme da carreira do ator contribui ainda mais para o
clima nostálgico que a produção remete. Outra participação também saudosa é a
do ator Tom Skerrit, que trabalhou com Stanton em “Alien, O Oitavo Passageiro”
(Alien, 1979).
O mais sublime em Lucky é
justamente conseguir emocionar sem precisar apelar para clichês. Simplesmente
contemplar a certeza do desconhecimento do fim da nossa existência. Aceitá-la,
talvez isso seja o mais difícil, de maneira leve, mesmo que o nada seja tudo
que nos espera.
FICHA
TÉCNICA:
Diretor: John Carroll Lynch
Roteiro: Logan Sparks e Drago Sumonja
Fotografia: Tim Suhrstedt
Elenco:
Harry Dean Stanton, David Lynch, Barry Shabaka Henley, Tom Skerrit
Produção:
Superlative Films, Divide / Conquer, The Lagralane Group
Distribuição: Imovision
País: EUA
Ano: 2017
EM CARTAZ NOS SEGUINTE CINEMAS:
(Programação de 7 a 13/12)
Brasília: Cine Cultura Liberty Mall
Campinas: Cine Galleria
Fortaleza: Cinema do Dragão – pré-estreia dia 09/12
Niterói: Reserva Cultural
Palmas: Cine Cultura
Porto Alegre: Cine Guion Center
Rio de Janeiro: Estação Net Rio | Estação Net Barra
Point | Cine Joia
Salvador: Saladearte Cinema do Museu – Pré-estreia
dia 10/12
São Paulo: Reserva Cultural | Caixa Belas Artes
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