Com "Animais Noturnos", Tom Ford confirma solidez de seu talento também como diretor

O designer Tom Ford entrou para a Gucci em 1990, quando a marca estava prestes a falir. Quatro anos depois, ele se tornou o Diretor Criativo da empresa, reerguendo-a ao trazer uma nova proposta estética, com um espírito mais moderno e inovador. Sua passagem pela Gucci foi tão forte e marcante que o museu da loja, em Florença, inaugurou, em 2016, duas novas salas dedicadas a ele. Afinal, Ford foi o responsável por elevar o patamar da marca que até hoje faz sucesso no mundo. Em 2004, ele saiu da empresa e criou sua própria marca, que contempla roupas masculinas, femininas, joias, cosméticos, perfumes e diversos acessórios.


Em 2009, Ford resolveu se aventurar no ramo cinematográfico ao lançar nos cinemas o primeiro filme sob sua direção: "Direito de Amar" (A Single Man), estrelado pelos atores Colin Firth e Julianne Moore. A produção recebeu indicações de prêmios em diversos festivais e foi muito bem recebida pela crítica e pelo público. Agora, em 2016, ele lançou seu segundo, e novamente promissor  longa, "Animais Noturnos" (Nocturnal Animals), estrelado por Amy Adams, Jake Gyllenhaal, Michael Shannon e, o sempre incrivelmente metamorfoseado, Aaron Taylor-Johnson, cuja filmografia evidencia as diferentes nuances do seu trabalho.

Assim como a primeira produção de Ford, Animais Noturnos também é baseado em um romance: “Tony e Susan”, do escritor Austin Wright. Porém, aqui ele apresenta um roteiro de um thriller tenso, sombrio e bem mais complexo.

A história se passa em três diferentes tempos narrativos que se intercalam de forma muito bem estruturada. Susan (Amy Adams) é uma bem sucedida artista, casada com um marido lindíssimo (Armie Hammer) e que vive numa casa super elegante. Contudo, desde o início, percebe-se que o casal não está muito bem financeiramente – e nem conjugalmente. O diálogo entre os dois é frio e distante. Susan parece estar distante não só do marido, mas também de si mesma. Aos poucos, vamos compreendendo o motivo dela estar em tal estado emocional. Para amplificar a situação, ela recebe o primeiro exemplar de um livro intitulado “Animais Noturnos”, que foi escrito pelo seu ex-marido, Edward Sheffield (Jake Gyllenhaal). Ao abrir a página, vê que a obra foi dedicada a ela. A partir do momento que Susan inicia a leitura, somos transportados para a história junto com ela e entramos no contexto da narrativa do livro, que conta sobre um casal em viagem com a filha adolescente pelas estradas do Texas, durante a noite e um incidente terrível acontece. A medida que Susan vai lendo, inevitavelmente, ela também começa a se lembrar do tempo que era casada com Edward.



A narrativa do filme cresce e se intercala na proporção da intensidade das histórias, seja a da ficção do livro, do passado da personagem ou do seu momento presente. Tudo isso está magnificamente bem orquestrado, de forma que o espectador não se perca e consiga compreender as particularidades dos personagens. Tom Ford prova, assim, que está em total controle como diretor ao conseguir elaborar os encadeamentos das cenas de forma segura, apresentando, inclusive, pequenos raccords entre as diferentes narrativas.

Em uma entrevista, Ford disse que "Animais Noturnos" é sobre lealdade e a forma cruel e egoísta de como, algumas vezes, descartamos as pessoas. Ao terminar a história do livro e do longa, conseguimos compreender o que o autor, ex-marido de Susan, quis expressar com sua narrativa literária e o quanto da ficção contida nela foi um processo catártico para que ele pudesse lidar com suas emoções. Já Susan parece não ter uma válvula de escape, nem mesmo na arte que desenvolve, que diz ser realmente um lixo por justamente retratar o lixo existencial da sociedade atual. Tudo que lhe resta é a insônia e o cômodo conforto vazio da sua vida, que foi fruto de suas próprias escolhas.


FICHA TÉCNICA:

Direção e roteiro: Tom Ford
Elenco: Amy Adams, Jake Gyllenhaal, Michael Shannon, Aaron Taylor-Johnson
Fotografia: Seamus McGarvey
Produção: Tom Ford e Robert Salerno
Distribuição: Universal
País: EUA
Duração: 116 min.
Ano: 2016

Comentários

Unknown disse…
Acho que o roteiro deste filme foi muito criativo e foi uma peça clave de êxito. . O personagem de Michael Shannon é o melhor, ele fez um ótimo trabalho. Eu vi que seu próximo projeto, Fahrenheit 451 será lançado em breve. Acho que será ótimo! Adoro ler livros, cada um é diferente na narrativa e nos personagens, é bom que cada vez mais diretores e atores se aventurem a realizar filmes baseados em livros. Acho que Fahrenheit 451 sera excelente! Se tornou em uma das minhas histórias preferidas desde que li o livro, quando soube que seria adaptado a um filme, fiquei na dúvida se eu a desfrutaria tanto como na versão impressa. Acabo de ver o trailer da adaptação do livro, na verdade parece muito boa, li o livro faz um tempo, mas acho que terei que ler novamente, para não perder nenhum detalhe. Sera um dos melhores filmes lançamentos acho que é uma boa idéia fazer este tipo de adaptações cinematográficas.