Documentário "O Último Tango" é um verdadeiro esplendor de forma e conteúdo


 O diretor documentarista argentino German Kral, mesmo residindo na Alemanha, não deixou de lado o seu interesse pela cultura latina. Seus filmes anteriores, “Música Cubana” (idem, 2004) e “O Último Aplauso” (El Último Aplauso, 2008), não deixam de negar tal fato. E o mesmo pode-se dizer da sua mais recente produção “O Último Tango” (Un Tango Más, 2015).

O documentário conta a história dos dois dançarinos de tango mais famosos do mundo: María Nieves e Juan Carlos Copes. Juntos eles construíram e desenvolveram uma nova forma de dançar e se apreciar o tango. Foi Juan quem pensou, pela primeira vez, em apresentar a dança em um palco, pois antes era dançada somente em clubes específicos para essa modalidade de ritmo.

O filme começa mostrando os dois na atualidade, María com 80 anos e Juan com 83. E logo na abertura, María diz que não se arrepende de nada na sua vida, exceto ter se envolvido com Juan. A partir daí a narrativa vai reconstituindo a fala e, literalmente, os passos vividos e dançados pelo casal. Vemos os atores/dançarinos que encenam ambos conversando com María, perguntando sobre sua vida e também sendo instruídos por ela durante os ensaios para o documentário. A cada cena, em seguida vemos uma outra que a descortina, como se fosse uma espécie de making of. A escolha por tal recurso engrandece não só a história em si, como a enaltece o próprio gênero documentário. O resultado é simplesmente de uma magnificência ímpar! Remete um pouco ao estilo de um outro documentário, também sobre dança, “Pina” (idem, 2011), dirigido por Wim Wenders, que inclusive é produtor executivo no filme do Kral e, provavelmente, pode ter servido de influência para ele.


O roteiro, também escrito pelo diretor, está muito bem amarrado e traça a linearidade que vai desde a infância até a vida atual de María Nieves. E isso é feito mesclando-se imagens de arquivo, danças de tango, encenações e a conversa de María com os dançarinos e coreógrafos. É tudo tão bem costurado, que nos deixa completamente hipnotizados pela história dessa mulher e da sua vida. Mesmo, com Juan também contando a sua versão dos fatos, fica bem claro que a narrativa se volta para o ponto de vista de María.

A coragem e bravura dela são realmente admiráveis, pois foi casada, se separou e permaneceu companheira de dança de um homem que era extremamente mulherengo e machista. Eles eram ótimos juntos como dançarinos, mas não como marido e esposa. Ele se casou novamente e teve filhos, ela não. No discurso que fez no Japão após sua última apresentação com ele, ela resume dizendo que o tango é uma dança que tem uma coisa especial, pois transmite a comunicação do casal. E essa comunicação pode ser amor, mas também pode ser ódio. Esse processo todo foi muito intenso e difícil para María, porém a paixão pelo tango sempre esteve acima de tudo. Tanto que, para ela, a separação artística com Juan foi muito mais dolorosa do que a matrimonial. Como um dos dançarinos diz, é como se o conflito entre eles transcendesse em nome de um amor em comum, dançar o tango. 


FICHA TÉCNICA

Direção e roteiro: German Kral
Elenco: María Nieves Rego, Juan Carlos Copes, Melina Brutman, Leonardo Cuello
Fotografia: Jo Heim, Felix Monti
Produção: German Kral, Nils Dunker, Dieter Horres
Duração: 1h25min
País: Argentina / Alemanha
Distribuição: Imovision

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