Gonzaga, de Pai para Filho


O diretor Breno Silveira retoma o tema biográfico no cinema ao retratar a vida de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha. Anteriormente, em 2005, havia feito “2 Filhos de Francisco”, contando a história da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano. E, novamente, com Patrícia Andrade, divide a parceria no roteiro do filme, que centra sua narrativa na difícil relação entre pai e filho.

A semelhança física dos atores com seus personagens reais é o que mais surpreende. Destaque para Júlio Andrade, que parece ter, literalmente, incorporado Gonzaguinha. O ator gaúcho diz que sempre teve uma forte identificação com a música do cantor e que, inclusive, também chegou a cantar em barzinhos durante uma época de sua vida, e canções de Gonzaguinha faziam parte de seu repertório. Além de Júlio, o ator mirim Alison Santos representa o cantor em sua infância. Sendo que ele já era conhecido de Breno, pois havia feito o teste para seu filme anterior, “À Beira do Caminho”. O Gonzaguinha adolescente ficou por conta de Giancarlo Di Tommaso. Ambos atores estão em atuações deslumbrantes ao transmitirem a revolta de um filho com um pai sempre ausente e que nunca lhe demonstrou amor e carinho. E este também é vivido por três atores diferentes: Land Vieira, vive o Luiz adolescente, morando com sua família em Exu, cidade no interior do sertão pernambucano; Chambinho do Acordeon, faz Gonzagão em seu momento de ascenção e reconhecimento público; e Adélio Lima interpreta ele aos 70 anos de idade, conversando e tentando se entender com o filho. Vale ressaltar que a escolha de Chambinho aconteceu em uma seleção entre cinco mil canditados. Breno diz ter escolhido ele graças ao seu sorriso, que transmitiria justamente a alegria de Gonzagão, além, é claro, do fato dele já ser um profissional do acordeon.

O filme está dividido em dois tempos narrativos: o tempo presente, que é 1980; e o tempo passado, que é mostrado à medida que Gonzaga vai contando sua história para o filho. O mote central está na conversa entre os dois, que acaba virando uma espécie de entrevista, que realmente foi gravada por Gonzaguinha, na época, e serviu também como material de pesquisa para a produção. Por ser um filme biográfico, a montagem tem como privilégio fazer uso de imagens de arquivo dos verdadeiros personagens de sua história. Isso poderia causar uma certa confusão de linguagem, no entanto, funciona como algo complementar dentro do contexto apresentado. A trilha sonora faz uso de instrumentos musicais que funcionam como leitmotivs para os personagens. Gonzagão é acompanhado, logicamente, pelo som do acordeon e para Gonzaguinha, o som que ouvimos é do violão. Além de também estar presente canções dos próprios cantores, afinal se trata de dois grandes nomes da música brasileira, e é claro, que elas permeiam todo o filme. Tanto que, em alguns momentos, são utilizadas de forma quase descritivas. Por exemplo, quando Luiz retorna, já consagrado, à Exu para rever sua família, seu pai, Januário, abre a porta e em seguida vemos a casa se transformar numa grande festa. O momento é embalado pela música “Respeita Januário”, cuja letra descreve exatamente o que nos é mostrado em cena.

Percebemos que o tom do filme nos leva a uma visão um tanto quanto geral, pois opta por não se aprofundar em algumas questões, como por exemplo, o real motivo do descaso afetivo do pai com o filho. Especula-se que sua mãe teria conhecido Luiz Gonzaga já grávida. No entanto, a escolha do roteiro prefere apontar que a dificuldade da relação dos dois se sustenta pelas visíveis diferenças de opiniões e visões de mundo que eles expressam. Afinal, Gonzagão veio do sertão e não recebeu uma educação tradicional, já Gonzaguinha, foi criado na cidade grande e estudou nos melhores colégios. Porém, independente de quaisquer fatores, ou justamente por causa deles, ambos são dotados de uma enorme riqueza artística, que realmente merecia ser engrandecidamente registrada na tela do cinema.

Comentários

Amália Queiroz disse…
Estou mais curiosa ainda em assistir o filme. Vamos nessa sexta-feira, Eu Mami e Ziva.
Valeu o comentário. Perfeito!
Beijos, Mary.
Tati Reuter disse…
Lari, eu não costumo ler crítica antes de ir ao filme, como você sabe. Mas como a história é conhecida minha, achei que não teria muito problema. Vou ver o filme, mas o que tenho lido por alto e segundo você, ele parece cumprir direitinho. Eu como amante 'internacional' de forró, sei que vai ser um reencontro com a música deliciosa que está comigo desde que nasci. Vamos ver. Se eu já tinha gostado de Breno depois dos filhos de Francisco, acho que agora vai ser ainda mais fácil ;)
Patricia disse…
Larissa, eu assisti o filme e gostei muito da ótica da narrativa, como foi conduzido o roteiro que , apesar de ter mostrado a trajetória profissional desses belíssimos interpretes, também enfatiza essa relação de pai , pra filho , desde a cumplicidade de Seu Januário e Gonzacão como a relação amor e "odio" de Gonzagão e Gonzaguinha. Comovente e reflexivo.Parabéns pelo blog. Patricia
Ainda acho que deveria ter sido feito um documentário.