Existe uma premissa artística de que uma vez pronto, o filme ou uma outra obra qualquer, deixa de pertencer ao diretor/criador e passa a pertencer aos seus espectadores e suas mais variadas interpretações. Tal alegação pode ser fortemente comprovada em A Origem, do diretor inglês Cristopher Nolan (Amnésia, Batman Begins e Cavaleiro das Trevas). Desde a primeira cena até a última, o filme faz com que nós, espectadores, possamos ter uma experiência extremamente cerebral de testar a nossa própria inteligência para que possamos compreender uma história de ficção científica cuja trama ocorre dentro de uma específica complexidade lógica.
É difícil escrever sobre o filme sem spoilers, mas de uma forma geral, a história se passa dentro da mente das pessoas, enquanto estão sonhando. O personagem de Leonardo Dicaprio e sua equipe têm a função de entrar na mente das pessoas para roubar informações e segredos. Pode-se dizer que seria uma espécie de Matrix ao contrário, enquanto neste as pessoas já vivem, inconscientemente, num mundo irreal e são “acordadas” para a realidade, em A Origem, elas buscam as verdades do mundo real dentro do mundo onírico.
Com esse mote, Nolan conseguiu fazer um filme que impressiona não só pelos efeitos visuais, como por um roteiro muito bem elaborado, que inclusive levou dez anos para ficar pronto. Os diálogos não são muito explicativos, no que diz respeito ao funcionamento do processo de se entrar nos sonhos das pessoas. No entanto, são extremamente reflexivos, tal como uma das falas iniciais do personagem Don, vivido por Dicaprio, que diz que o parasita mais resistente que existe é uma ideia. Com ela é possível construir cidades, transformar o mundo e recriar todas as regras.
Além dos diálogos, o roteiro de Nolan também faz, e muito bem, o uso do tempo narrativo cinematográfico, através da montagem paralela. Para expor as histórias ocorridas no universo do inconsciente, ele opta por um efeito cascata em que somos levados a pular de sonhos em sonhos sem que nos percamos. A cena em que a van está caindo é memorável, pois, através do recurso de dilatação do tempo, é possível com que tenhamos quatro momentos ocorrendo paralelamente.
Um detalhe que também vale destacar é que a produção tem versões com finalizações em IMAX. O filme mesmo foi rodado em 35 mm e algumas sequências em 65 mm, que são as melhores qualidades de imagem possíveis, abaixo do IMAX. No entanto, tais exibições só poderão ser vistas em São Paulo e Curitiba, que são os únicos lugares no Brasil que possuem salas com tais tipos de projeção. Enfim, em IMAX ou não, este é um filme grandioso, que ousa tanto pela tecnologia, quanto pelo conceito em si.
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