Que bom que ainda tive mais uma chance para assistir a essa incrível animação, que já havia saído de cartaz dos cinemas. Isso graças ao Anima Mundi 2010, já que o filme concorre dentro da categoria Longa-Metragem. A produção, feita em stop-motion, foi escrita e dirigida por Adam Elliot, que já levou vários prêmios, como o Crystal Bear (para a nova geração), no Festival de Berlim 2009.
Mary Daisy Dinkle é uma menina de 8 anos que vive na Austrália e tem muitas curiosidades a respeito de tudo que cerca a sua vida. Seus pais lhes são um tanto alheios às suas incansáveis perguntas e ela não tem muitos amigos. Assim, motivada pela sua imensa curiosidade, aleatoriamente, ela escolhe um nome de uma pessoa qualquer nos EUA, através de um livro de páginas amarelas nos correios. O nome que ela pega é de Max Jerry Horowitz, que é um homem de 44 anos, morador da cidade de Nova York. Ele vive sozinho em um pequeno apartamento e é uma pessoa bastante excêntrica, com muita dificuldade para se relacionar com outras pessoas.
A fotografia do filme é algo que chama a atenção. É engraçado fazer essa observação numa animação, mas não é só por ser uma animação que a fotografia é menos importante. Ao contrário, ela é ainda mais presente para uma narrativa em que tudo ali é feito de forma praticamente artesanal. Ou seja, todos os objetos, figuras, cores e iluminação foram milimetricamente pensados para traduzir uma ideia. A vida de Mary tem um tom meio amarronzado, que aliás, é a cor favorita dela, mas com algumas tonalidades coloridas. E a vida de Max é completamente preta & branca, tudo meio acinzentado. No entanto, os dois personagens estão em um tom meio cinza, tendo somente alguns detalhes que lhes dão algum colorido, como a fivela vermelha no cabelo preto de Mary.
A relação dos dois vai se estruturando cada vez mais através da troca de correspondências. Mary sempre fazendo inúmeras perguntas, todas muito interessantes e outras extremamente profundas, ao ponto de deixar Max completamente transtornado e levar dias para conseguir respondê-las. Aos poucos vamos percebendo que essa dificuldade de relacionamentos de Max é fruto de uma doença chamada Síndrome de Asperger, e que, com o passar dos anos, Mary vai aprendendo a lidar com ele, mesmo estando em outro continente. Tudo isso é feito com muito humor, utilizando o recurso de cenas que ilustram de forma engraçada a narrativa daquilo que é falado, já que a imaginação de ambos os personagens é de extrema peculiaridade. Por exemplo, quando Mary pergunta a Max o que fazer a respeito de um menino na escola, que fica caçoando de uma mancha de nascença que ela tem na testa, dizendo que é cocô. Max responde que ela deve dizer para esse menino que aquela mancha é, na verdade, sorvete e que ela, quando morrer, ficará encarregada, no céu, de distribuir todo o sorvete do mundo.
O filme emociona a todo momento, pois fala sobre as dificuldades da vida, os obstáculos que temos a ultrapassar, tanto quando ainda crianças até quando nos tornamos adultos. Ouvi algumas pessoas falarem que essa é uma produção depressiva, mas discordo considerando que ela fala profundamente sobre o valor da amizade e que é através desse sentimento que é possível conseguir lidar melhor com o mundo e com nós mesmos. E se não podemos ter esse sentimento em família, como é o caso de Mary, podemos buscá-lo em outras pessoas, até mesmo naqueles que moram distantes de nós. Portanto, ao contrário de depressivo, o filme nos enche de esperança, amor, altruísmo, revelando assim que tais sentimentos podem ser poderosos e transformadores na vida de qualquer pessoa, independente da idade, cultura, religião, sexo, ideologia ou o que mais nos diferencie. Afinal, os amigos são os parentes que temos a oportunidade de escolher.
Comentários
Será que teremos a oportunidade de ver aqui em Vitória??
Sabe como é a vida cultural por aqui né!!
Adorei seus comentários, como sempre.
Beijos.