Mademoiselle Chambon e Brilho de uma Paixão



Dois filmes em uma mesma noite: "Mademoiselle Chambon" e "Brilho de Uma Paixão" (Bright Star). Dois filmes românticos, extremamente românticos, cada um à sua maneira. O primeiro se passa na nossa época atual, século XXI. O segundo, no século XIX. Mademoiselle veio da França (de onde mais?) e Bright Star veio da Inglaterra. Ambos os filmes foram escritos e dirigidos respectivamente por: Stéphane Brizé e Jane Campion.

"Mademoiselle Chambon" preza pelo silêncio e pela excelente e sutil atuação de seu elenco, que foi brilhantemente escolhido. Vincent Lindon e Sandrine Kiberlain (que vive a personagem-título do filme) já foram casados na vida real, e no filme vivem um frágil e breve romance extraconjugal. Os diálogos entre os dois ocorrem, quase sempre, de forma metafórica. O primeiro momento se dá quando Jean (Vincent) vai até a escola para falar com as crianças sobre a sua profissão, que é de pedreiro. Um dos alunos lhe pergunta: "Uma casa pode durar para toda a vida?" A referência que se faz aí é justamente sobre o casamento. Ele pode durar toda a vida? E ele explica que tudo depende da fundação, da base que é feita para dar sustentação à "casa".

Como já é comum em produções francesas, aquilo que é não dito fala muito mais do que aquilo que é dito. E Stéphane consegue rechear o filme de momentos assim, com enquadramentos que nos fazem quase que perceber os pensamentos de seus personagens, e ao mesmo tempo, compreender as atitudes tanto de um quanto do outro. Não sei se concordo muito com a parte em que o romance extraconjugal é concretizado, ou seja, eles acabam dormindo juntos. Acho que o filme deveria acabar antes, pois o final já está mais do que previsível. Afinal, um típico romance francês terminaria sem isso, pois a condição de seus personagens está naquilo que se passa em suas almas e corações, e não na concretização física de seus sentimentos. Isso irrita algumas pessoas, principalmente se estão acostumadas a assitir produções americanas românticas que quase sempre terminam com um happy end. No entanto, o filme quebra esse estigma e faz com que pensemos que a não concretização se torne uma traição ainda maior, que seria a traição de si mesmo, de não admitir seus próprios sentimentos.

Já "Brilho de Uma Paixão", abusa devidamente das falas de seus personagens, uma vez que aborda um período da vida do poeta inglês John Keats. O poeta é vivido pelo ator Ben Whishaw, que também fez o protagonista de "Perfume - A História de Um Assassino". O título original do filme - Bright Star - é uma referência a um dos poemas de John. E realmente é a poesia que engrandece o filme. Os diálogos são sempre intercalados com os textos poéticos de John.

Diferente da produção francesa, aqui o problema do romance entre o poeta e sua vizinha, Fanny, é a sua falta de recursos financeiros para mantê-la. Ele é extremamente pobre e vive graças a favores de amigos. A sua poesia não vende e ele é considerado um fracasso. As regras da sociedade do século XIX não permitiam que uma dama se casasse com um cavalheiro que não possuísse nenhum bem ou certa condição financeira. No entanto, mesmo assim, eles vivem um romance atípico para a época e sofrem com todas as circuntâncias problemáticas dessa arrebatadora paixão. Paixão essa que, nesse caso, faz jus as produções inglesas de época (tais como adaptações de Jane Austen), ou seja, o sentimento de ambos não é concretizado fisicamente. Não acontece nada além de inocentes beijinhos.

Enfim, seja no silêncio, ou com palavras, podemos dizer que o mérito dessas duas produções nos emocionarem fica tanto a cargo de seus diretores/roteiristas, como também da interpretação que nós, espectadores, fazemos de suas obras. E que bom que ainda nos emocionamos com filmes sobre o amor, e que ainda somos capazes de enxergá-lo, em suas variadas formas. O nosso dia-a-dia pode ser bastante duro e difícil, mas não importa o que aconteça, é preciso conseguir enxergar a poesia por trás de tudo, sempre.

Comentários

Paulo Tamburro disse…
LARISSA,

SEU BOM GOSTO É FANTÁSTICO.

PARABÉNS!!!


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Anônimo disse…
...o amor é filme...
Anônimo disse…
Carol.
Amália disse…
Larissa,
Seus comentários são sempre interessantes e despertam a nossa curiosidade em assistir aos filmes.
Beijos, Amália.
Tati Reuter disse…
Não sei, Lari.. mas meu problema com o francês é que ele é literalmente monótono... o clímax quase se perde no filme. Gosto dos silêncios e as metáforas.. não me dizem muito também, acho até óbvias. Acho que o silêncio "não diz muito", não consegue se traduzir em carga dramática suficiente. Gosto do final, entretanto, acho necessário. Vamos esperar eu ver o outro pra te contar! :)