Polícia, Adjetivo



O dicionário é um instrumento que usamos para buscar por palavras que não sabemos, ou que estamos em dúvida sobre o seu significado. E o sentido que elas possuem é dado por pessoas, que assim como nós, também buscam compreender e interpretar não só palavras, mas também atitudes e situações que confrontamos no nosso dia-a-dia. Essas divagações se encontram refletidas de uma forma sutilmente brilhante no filme romeno Polícia, Adjetivo, do diretor Corneliu Porumboiu, que inclusive estava cotado para levar a Palma de Ouro de Melhor Filme no Festival de Cannes de 2009. E, no entanto, quem levou foi “A Fita Branca”, de Michael Hanneke.

O personagem principal está passando por um momento de dúvida ética a respeito do seu posicionamento perante o trabalho que desempenha como policial, e suas próprias crenças pessoais. Porém, antes de visualizarmos esse conflito interno, o que vemos e conhecemos é a rotina que ele está vivenciando no momento. Todos os dias ele segue um garoto suspeito de estar traficando drogas. Essa é a sua missão e somos inseridos nesse contexto através de longos planos e sequências que narram, de forma até repetida, os variados trajetos que o protagonista percorre.

A repetição é um recurso usado pelo diretor que nos remete à rotina
A repetição é um recurso usado pelo diretor que nos remete à rotina
A repetição é um recurso usado pelo diretor que nos remete à rotina

No cinema, de forma geral, as histórias narradas, por mais que pareçam rotineiras, não são mostradas como realmente são na vida real. Por meio de recursos de linguagem (elipses, cortes rápidos, flashbacks, entre outros), a rotina é mostrada de uma maneira mais rápida e dinâmica. No entanto, Porumboiu faz questão de planos que são quase documentais e acompanham todos os passos do protagonista. Um outro filme que também faz uso desse recurso de uma forma cadenciada e ritmada é “O Renascimento”, do diretor japonês Masahiro Kobayashi. Em ambos filmes, pode-se dizer que o hábito da rotina se transforma em o protagonista das histórias e seus personagens são meros figurantes presos em um cotidiano marcado por ações de trabalho incansavelmente repetidos.

A parte final do filme é o seu ponto alto. Acontece um diálogo extremamente profundo e inesperado entre o policial e seu chefe. A surpresa está não só no diálogo em si, mas também, na preocupação de um delegado de polícia e sua forma de argumentação com o seu funcionário. O título do filme é uma referência a esse momento, pois o chefe busca esclarecer, de forma prática e didática, fazendo uso até de um dicionário, para resolver o conflito interno e pessoal do seu subordinado. Afinal, que outro livro melhor poderia ser usado para encontrar significado e sentido de palavras e sentimentos do que um Dicionário? Talvez aquilo que nos aflija tanto não seja tão complexo e possa realmente ser resolvido de maneira mais fácil do que imaginamos. É como dizem por aí: A vida é simples, somos nós que a complicamos.

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