ROCKETMAN é vibrante e revigorante na forma e conteúdo


Após o decepcionante resultado do Oscar desse ano de 2019, que premiou “Bohemian Rhapsody” com 4 prêmios questionáveis, incluindo o de Melhor Ator para Rami Malek e sua caricata interpretação de Freddie Mercury, assistir ROCKETMAN traz uma sensação revigorante devido a forma como aborda uma parte da vida de outro grande personagem da música mundial, Elton John.
O diretor inglês Dexter Flecther, que também é ator e produtor, (produziu, inclusive, o próprio Bohemian Rhapsody), conseguiu trazer para as telas de cinema a história do cantor inglês de uma maneira mais criativa. A comparação entre os dois filmes é inevitável, pois ambos trazem personagens musicais gays e da mesma geração em que começaram suas carreiras.


Enquanto em Bohemian nos é apresentado um roteiro extremamente conservador, e que parece pisar em ovos ao tocar em assuntos que envolvem drogas e a sexualidade de Freddie Mercury, em Rocketman, isso é feito de forma mais aberta e sem tantos pudores. Outra diferença crucial está no fato do ator Taron Egerton, que interpreta Elton John, realmente cantar todas as músicas, o que transmite uma veracidade maior ao personagem. Sem falar que a produção segue o estilo de filme musical, onde não somente Taron, mas vários outros atores também cantam. O preparo de atuação, tanto nos EUA quanto na Europa se difere do Brasil nesse sentido, pois cantar está no curriculum de quase todos profissionais. Mas, é claro que Egerton teve meses de ensaios e aulas de canto e dança para incorporar o famoso cantor pop britânico. Tendo, inclusive o aval, do próprio Elton.

O roteirista Lee Hall, conhecido por “Billy Elliot” (idem, 2000), optou por contar a história do cantor desde sua infância, utilizando o recurso de flashbacks em relação ao Elton já adulto e numa clínica de reabilitação. Durante uma sessão de terapia em grupo, ele próprio vai lembrando sua história de vida, onde a narrativa nos seduz logo de cara com uma cena de apresentação do Elton criança cantando e dançando uma música de 1974, “The Bitch is Back”. O tom de fantasia musical nos arrebata e nos convida a mergulhar na família de Reginald Dwight (Reggie), nome verdadeiro de Elton, cuja mãe é interpretada pela atriz Bryce Dallas Howard, a avó Gemma Jones e o pai vivido por Steve Mackintosh. A relação dos pais com Reggie não é muito afetuosa, principalmente com o pai, que nem sequer encosta no filho e o trata com extrema frieza. A avó é quem percebe o talento do menino ao notar a incrível capacidade dele em pegar músicas de ouvido e as reproduzir no piano da casa. Reggie passa da infância à adolescência estudando e aprimorando o seu talento musical. Aos 11 anos ganha uma bolsa para a Royal Academy of Music.

 

Mesmo tendo feito tais conquistas ainda tão novo, o pai continua sendo frio e demonstrando não se importar com a vida do filho. Entra em cena então a música “I Want Love”, cuja interpretação se divide entre os membros da família, onde cada parte da letra se encaixa perfeitamente ao perfil dos personagens. O resultado provoca uma empatia imediata no espectador não só por Reggie, mas por todos que estão em cena neste momento, inclusive no pai.

Reggie então se torna um jovem adulto e já aparece tocando piano e cantando com sua banda em um bar. Vale destacar que as elipses (passagens de tempo) contidas no filme acontecem de forma bastante criativas e inteligentes, fazendo uso principalmente de raccords (elementos de ligação/continuidade entre diferentes cenas).

A partir daí a ascensão e transformação de Reggie em Elton John é inevitável e gradativa, principalmente quando ele conhece Bernie Taupin (Jamie Bell), que se tornaria o seu letrista de mais de centenas de canções, além de “amigo-irmão”.


O percurso do cantor segue a fórmula fama + carência + sexo + drogas, que nesse sentido se assemelha ao percurso percorrido por Freddie Mercury, quando inclusive ambos tiveram o mesmo empresário musical, John Reid, aqui vivido pelo ator da série “Game of Thrones” Richard Madden. E por coincidência, em Bohemian o mesmo personagem foi interpretado por um outro ator também de GOT, Aiden Gillen. Reid e Elton viveram um relacionamento romântico e profissional por mais de 20 anos. Mas, conforme é apresentado no filme, era um relacionamento não muito saudável para Elton.

O roteiro do filme vai somente até a década de 80, que foi o período mais crítico do uso de drogas do cantor, onde ele resolve finalmente buscar ajuda e se tratar, retomando assim ao início da narrativa. O enfoque escolhido foi de mostrar o início e o auge da carreira do cantor, que como ele descreve, “foi uma época extraordinária e surreal”. Os extravagantes e coloridos figurinos utilizados pelo artista nos shows contribuem para essa aura de fantasia e fábula da sua própria vida, que acaba felizmente com um final feliz sobre superação e o a importância de descobrirmos e aceitarmos quem somos.


FICHA TÉCNICA:

Direção: Dexter Fletcher
Roteiro: Lee Hall
Fotografia: George Richmond
Produção: Adam Bohling, David Furnish, Matthew Vaughn, David Reid
Elenco: Taron Egerton, Jamie Bell, Richard Madden, Gemma Jones e Bryce Dallas Howard
Duração: 2h1min                
Distribuição: Paramount Pictures Brasil
País: Reino Unido / EUA
Ano: 2019

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