Bling Ring, A Gangue de Hollywood


O vazio existencial parece ser o tema recorrente de Sofia Coppola, que desde o seu primeiro longa, “As Virgens Suicidas” (The Virgin Suicides, 1999), vem retratando, em variados níveis, a incansável busca de seus personagens em preencher esse vazio. Seu mais recente filme parece, mais uma vez, não fugir dessa premissa. “Bling Ring, A Gangue de Hollywood” (The Bling Ring, 2013) é baseado em um artigo publicado pela jornalista Nancy Jo Sales para a revista "Vanity Fair", cujo título é “Os suspeitos usavam Louboutins”. Nele, ela relata e faz uma análise sobre o fato ocorrido entre 2008 e 2009 em que jovens de classe média alta de Los Angeles, roubavam mansões de pessoas ricas e famosas, tais como Paris Hilton, Lindsay Lohan e Orlando Bloom. O foco em jovens ricos sempre foi objeto de estudo da jornalista, que os acompanha de perto desde 1996.

Pode-se considerar que o filme de Sofia é uma crônica a respeito desse universo de adolescentes ricos, entediados e sem nenhuma noção de caráter ou senso de realidade. O que vemos é como eles são facilmente levados pelos ideais difundidos pela sociedade capitalista e de consumo que vivemos, ao ponto de almejarem tanto um estilo de vida, no caso o dos famosos, que para isso roubam e utilizam seus pertences na ilusão de ficarem mais parecidos com seus ídolos. Afinal, essa é justamente uma das principais premissas da publicidade e propaganda: use o relógio da famosa tal e seja igual a ela! Bem, a gangue Bling Ring levou isso ao pé da letra.

A montagem segue um estilo vídeo-clipe, intercalando imagens de celebridades, com as cenas do filme, que estão sempre acompanhadas de uma trilha sonora, basicamente, de rap e hip hop. Isso provavelmente porque algumas dessas músicas trazem em suas letras frases que exaltam ainda mais a ostentação, o dinheiro e a fama. O que chega a ser curioso observar é a identificação musical desses jovens brancos de classe média alta, com o estilo musical proveniente de cantores negros e, em sua grande maioria, de origem de uma camada social mais baixa.

O elenco do filme é composto igualmente de jovens atores, com destaque para Emma Watson, que definitivamente, já está bem crescida, desde Harry Potter, e vem optando por interessantes escolhas de papéis em sua carreira. Aqui ela é Nicholette ou Nicki, que é uma das patricinhas da gangue e talvez a que tenha, digamos assim, uma maior preocupação com o mundo em que vive. Ela diz que pensa em se tornar uma grande líder para poder ajudar as pessoas. Essa influência talvez venha da sua mãe que baseia a educação de suas filhas no livro “O Segredo”, de Rhonda Byrne e antes do café da manhã fornece para elas uma dose de Adderall (remédio para o tratamento de transtornos psicológicos, como o TDAH - transtorno de déficit de atenção e hiperatividade).

Se o que os adolescentes da Bling Ring queriam era fama, eles realmente conseguiram. Viraram celebridades do crime, com direito a um filme sobre eles. Num país como os EUA, que possui um histórico de uma bizarra idolatria por criminosos, não é de se estranhar completamente que esses jovens achassem normal agir da forma como agiam, pois no final das contas eles sabiam que acabariam se tornando famosos. É como Marc, vivido por Israel Broussard, diz no final do filme, quando reporta para uma jornalista que recebeu convite de 800 pessoas no Facebook quando souberam que ele estava envolvido nos roubos: “America has this sick fascination with a Bonnie and Clyde kind of thing” (America tem essa fascinação doentia pelo estilo Bonnie e Clyde).

Sofia poderia ir mais fundo na questão, mas como já é uma característica sua, ela prefere ficar na superfície. Seus filmes sempre nos mostram somente aquilo que está em um plano mais raso na construção narrativa de seus personagens. E essa é uma linguagem interessante, pois permite deixar que os espectadores especulem e adentrem cada um por si nos caminhos interpretativos. No entanto, apesar de Bling Ring tratar do auge da superficialidade das pessoas, talvez coubesse tomar um pouquinho mais de fôlego e dar um mergulho mais fundo dessa vez. Enfim, de qualquer forma, a intenção está no filme validada.

Comentários

Brooks Thaty disse…
Adorei esse novo filme da SC!
Excelente resenha!